Um novo estudo do projeto Amazônia 2030 analisa o crescimento, os gargalos e o futuro do setor de beneficiamento e exportação do açaí na região amazônica. O relatório, intitulado “Mesas Executivas de Exportação: O Panorama do Açaí”, aponta que o fruto símbolo da bioeconomia amazônica vive um momento decisivo, combinando expansão acelerada, valorização internacional e riscos crescentes que exigem coordenação entre produtores, governo e sociedade civil.
Produzido pelos pesquisadores Salo Coslovsky, Manuele Lima e Amanda Martins, o documento servirá de base para a criação da Mesa Executiva de Beneficiamento do Açaí, iniciativa articulada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade do Pará (Semas-PA).
Segundo o estudo, o Brasil produziu 1,93 milhão de toneladas de açaí em 2023, um aumento de 68% desde 2015. A produção industrial de polpas cresceu 17 vezes em uma década, refletindo a forte demanda nacional e internacional. As exportações atingiram US$ 140 milhões em 2024, com o produto brasileiro presente em mais de 30 países.
O Pará responde por 80% da produção nacional, concentrada no entorno de Belém e do arquipélago do Marajó, uma liderança que gera vantagens competitivas, mas também expõe o setor a riscos logísticos, trabalhistas e ambientais.
Oportunidades e riscos para o futuro do açaí
A analise aponta três oportunidades estratégicas:
Aumentar a produtividade agrícola, que hoje é de 7 toneladas por hectare no Pará, podendo chegar a 15 toneladas com manejo tecnificado;
Ampliar a participação nas exportações, que ainda representam apenas 2,5% a 4,5% da produção total;
Fortalecer a coordenação entre produtores, reduzindo custos, melhorando a qualidade e protegendo o setor da concorrência nacional e internacional, especialmente de Colômbia, Peru e Equador, que avançam sobre esse mercado.
O estudo também chama atenção para seis desafios estruturais:
Condições de trabalho, com denúncias que ameaçam o acesso a mercados premium;
Pressões ambientais, ligadas à “açaização” de grandes áreas;
Lacunas regulatórias, que geram insegurança tributária e sanitária;
Falta de monitoramento de safra, que compromete o planejamento produtivo;
Necessidade de inovação tecnológica, do campo ao beneficiamento;
Acesso da população local, pressionado pela alta dos preços do açaí.
“O setor construiu, ao longo das últimas décadas, uma posição de liderança baseada em vantagens naturais e conhecimento acumulado. Mas transformar esse sucesso em uma diferenciação sustentável exige ação coletiva”, afirma Salo Coslovsky. “A Mesa Executiva pode coordenar esforços, definir padrões de qualidade e consolidar o açaí como referência global em produto florestal sustentável.”



