Novo índice avalia a qualidade de vida e o desempenho socioambiental dos 5.570 municípios brasileiros. O Índice de Progresso Social – Brasil (IPS Brasil) é uma ferramenta de gestão territorial baseada em dados públicos, que identifica e apresenta, em uma mesma escala, se as pessoas têm o que precisam para prosperar, desde necessidades básicas como abrigo, alimentação e segurança, até se possuem acesso à informação e comunicação, e se são tratadas igualmente, independentemente de gênero, raça ou orientação.
Desenvolvido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) em parceria com Fundación Avina, Amazônia 2030, Anattá Pesquisa e Desenvolvimento, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Social Progress Imperative, e publicado nesta quarta-feira (03.07), o IPS Brasil 2024 fornece uma avaliação detalhada e abrangente do progresso social e ambiental, destacando a importância de complementar as medidas tradicionais de desenvolvimento econômico com indicadores de bem-estar e sustentabilidade.
No site do IPS Brasil, é possível analisar o perfil detalhado de todos os municípios, identificando em quais áreas cada um se destaca e onde há necessidade de melhorias. A plataforma também permite comparar municípios que estão na mesma faixa de PIB, área e população, oferecendo uma ferramenta poderosa para gestores públicos, investidores sociais e a sociedade em geral entenderem melhor as dinâmicas de desenvolvimento local e planejarem ações mais eficazes para promover o progresso social e ambiental.
Acesse o site do IPS e confira o perfil de todos os municípios brasileiros: https://ipsbrasil.org.br/
No IPS Brasil – 2024, o município de Gavião Peixoto, no interior paulista, apresentou o melhor desempenho. A melhor cidade entre as capitais do país é Brasília, seguida por Goiânia, Belo Horizonte e Curitiba. O estado campeão do Brasil na média de pontuação dos municípios é São Paulo, seguido por Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. No outro extremo, o município com o pior resultado é Uiramutã, em Roraima. A capital com média mais baixa é Porto Velho. E o estado com a pior classificação é o Pará. Esses são alguns dos resultados da primeira edição do IPS Brasil.
O que o IPS avalia?
Para traçar um quadro completo da qualidade de vida dos municípios do Brasil, o IPS avalia um conjunto de indicadores agrupados em três grandes dimensões. A estrutura do IPS possui três dimensões (Necessidades Humanas Básicas, Fundamentos do Bem-estar e Oportunidades) e 12 componentes. Cada componente responde uma pergunta orientadora e possui de três a seis indicadores (FIGURA 1).
(FIGURA 1) – Dimensões e componentes do IPS
A escolha dos indicadores para cada componente segue critérios rigorosos de acordo com a metodologia global do IPS. Os critérios para a escolha dos indicadores são: 1) ser social ou ambiental; 2) medir resultado; 3) ter uma fonte confiável e pública (dados secundários); 4) ser um dado recente (no máximo 5 anos); e 5) ter disponibilidade para todos ou quase todos os territórios (<95% – 100%).
Cada indicador passa por um processo rigoroso na modelagem estatística, desde a normalização, para que os dados sejam comparáveis, a validação da qualidade estatística do dado, definição de valores máximos e mínimos, e definição de pesos para cada indicador dentro dos componentes. O índice varia de zero (pior) a 100 (melhor) e corresponde à média simples dos índices de progresso social das três dimensões. A nota de cada dimensão, por sua vez, é a média simples dos resultados de cada componente que a compõe. E, por fim, os resultados dos componentes são gerados a partir de pesos obtidos entre os indicadores por meio da Análise de Componentes Principais (ACP).
Para calcular o IPS Brasil 2024, foram utilizados um total de 53 indicadores públicos de fontes oficiais e de institutos de pesquisa, com fontes como DataSUS, Instituto de Estudos para Políticas de Saúde, Conselho Nacional de Justiça, Mapbiomas, Anatel, CadÚnico, Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, entre outras.
Principais resultados do IPS Brasil 2024
O IPS Brasil 2024 geral atingiu uma nota igual a 61,83. Entre as dimensões do IPS Brasil 2024, a Dimensão 1 (Necessidades Humanas Básicas) possuía a melhor pontuação geral média (73,58). Já a Dimensão 2 (Fundamentos do Bem-estar) atingiu nota igual a 67,10 e a Dimensão 3 (Oportunidades) revelou o pior resultado (44,83).
Dos 12 componentes do IPS Brasil 2024, seis deles apresentaram um baixo índice médio (nota inferior a 65): Direitos Individuais (35,97), Acesso à Educação Superior (43,88), Inclusão Social (48,42), Liberdades Individuais (51,04), Saúde e Bem-estar (58,59) e Segurança Pessoal (58,27). Entre os componentes do IPS Brasil 2024, se destacam as condições nacionais de Moradia (87,74), Água e Saneamento (77,79), Nutrição e Cuidados Médicos Básicos (70,51), Acesso ao Conhecimento Básico (71,82), Qualidade do Meio Ambiente (68,21), e Acesso à Informação e Comunicação (69,77), todos com pontuação superior a 65. Já para o componente Qualidade do Meio Ambiente, os principais problemas ambientais ocorreram especificamente na região amazônica.
(FIGURA 2) – Mapa com o desempenho dos municípios do Brasil
Como correlacionar o progresso social e desenvolvimento econômico nos municípios?
O IPS é uma ferramenta que pode ajudar um território a compreender melhor a relação entre o seu progresso socioambiental e o desenvolvimento econômico, já que é possível fazer correlações entre o IPS e indicadores econômicos, como o cruzamento entre os dados do IPS Brasil 2024 e o PIB per capita 2021, que revela uma grande variação de resultados, principalmente para aqueles municípios com PIB per capita inferior a R$ 100 mil. Entre os municípios com níveis de PIB menores, houve uma variação grande dos resultados de progresso social, ou seja, mesmo com um PIB baixo, é possível atingir boas notas no IPS Brasil 2024.
Um exemplo ocorre entre dois municípios na Amazônia Legal com a mesma faixa de PIB per capita, mas com resultados bem diferentes no IPS. De um lado está o município Jacareacanga (PA) – que sofre com garimpo ilegal e desmatamento – com IPS 38,92 e classificação 5.566/5.570 e, do outro, o município de Itacoatiara (AM) com IPS 58,60 e classificação 2.579/5.570 localizado em uma área da Amazônia mais conservada. Essas grandes variações de resultados demonstram que o PIB per capita não explica sozinho o progresso social.
O gráfico abaixo mostra a comparação entre as notas dos municípios no IPS e o PIB per capita. Clique aqui para navegar.
(Figura 3) PIB Real per capita vs IPS Brasil 2024
O que é o IPS?
O IPS Brasil é a primeira aplicação em todo território brasileiro da metodologia internacional Social Progress Imperative. Desde 2014, o Social Progress Imperative coordena e divulga o IPS Global, que analisa o desempenho dos países em termos de progresso social. O cálculo desse índice internacional, na versão de 2024, é obtido a partir de 57 indicadores provenientes de pesquisas globais conduzidas por instituições como Health Metrics and Evaluation, UN Departament of Economics and Social Affairs, Gallup Poll. O IPS Global oferece dados para 170 países, oferecendo insights cruciais sobre o progresso social em escala internacional.
O IPS Brasil é um dos índices mais completos da realidade socioambiental de todos os 5.570 municípios do país, considerando Brasília (DF) e o distrito de Fernando de Noronha (PE). O índice proporciona um panorama multidimensional e acessível sobre a performance de municípios e estados em atender às necessidades básicas de seus cidadãos. Ele é uma ferramenta de gestão territorial baseada em dados públicos, que identifica e apresenta, em uma mesma escala, se as pessoas têm o que precisam para prosperar, desde necessidades básicas como abrigo, alimentação e segurança, até se possuem acesso à informação e comunicação, e se são tratadas igualmente, independentemente de gênero, raça ou orientação.
Esta é a primeira edição do IPS Brasil. A partir de 2024, o IPS Brasil será atualizado anualmente para que seja possível comparar o desempenho socioambiental dos municípios ao longo do tempo.