Menos boi, mais carne

A produção de carne bovina em larga escala na Amazônia brasileira é um fenômeno relativamente recente, consequência de dois fatos que ocorreram no começo do século 21. Primeiro, a rápida evolução do Brasil como país exportador de carne. Segundo, o controle da febre aftosa no cinturão meridional da Amazônia brasileira, o que permitiu a abertura do mercado externo para carne bovina oriunda dessa região.

A partir da década de 1970 até o final do século 20, a pecuária bovina de corte representou principalmente um instrumento para a ocupação e colonização da Amazônia. Isso ocorreu como resultado de políticas que objetivavam “desenvolvimento” com base no desmatamento, abertura de estradas, incentivos fiscais e crédito subsidiado para agropecuária. Porém, a despeito desses estímulos, a produção de carne bovina teve um desempenho modesto nesse período.

Essa dinâmica mudou a partir do início do século 21, com a maior participação dos grandes frigoríficos no processamento da carne na Amazônia. Atualmente, a cadeia da carne enfrenta uma série de desafios na região. Primeiro, ainda é muito associada ao desmatamento da pecuária, atividade que é usada muitas vezes para ocupar terras. A pecuária tem ainda uma produtividade média extremamente baixa na Amazônia, a despeito de exemplos de produtores que adotam boas práticas de manejo da pastagem com excelentes resultados. A pecuária é também uma atividade com elevada emissão de gases de efeito estufa por unidade de renda gerada. Tanto pela emissão de carbono resultante do desmatamento, quanto pela emissão do gás metano, entre os mais nocivos para a mudança climática, resultante da alimentação no pasto dos bovinos.

A partir de 2004, quando políticas governamentais começaram a enfrentar o desmatamento, pecuaristas começaram a adotar práticas que aumentam a produtividade – como o confinamento ou o semiconfinamento – na Amazônia. No entanto, o pesquisador do Imazon Paulo Barreto vê um risco de retrocesso em relação a esses avanços, em razão do atual quadro de tolerância, ou até estímulo, ao desmatamento na região.

É importante, dessa forma, aprofundar e compreender diferentes indicadores para medir a produtividade da pecuária bovina e/ou da cadeia da carne. Entre eles, a taxa de lotação, que se refere ao número de cabeças de gado por unidade de área de pastagem, e a taxa de desfrute, ou seja, a porcentagem do rebanho que vai ao abate, descontadas as fêmeas retidas para reprodução, que oferece um indicador melhor de produtividade. Mas esse estudo se propõe a ir além disso, pois é fundamental considerar o valor bruto da efetiva produção de carne ao longo da cadeia por hectare destinado à pecuária. Nesse quadro, o objetivo do estudo é resumir a visão de produtores da pecuária, frigoríficos e pesquisadores sobre as transformações e as principais tendências em curso no setor.

Autores: Roberto Smeraldi e Manuele Lima dos Santos

Digital Object Identifier (DOI): http://doi.org/10.59346/report.amazonia2030.202111.ed21