A Educação Profissional na Amazônia Legal

O número de jovens que cursam o ensino profissionalizante na Amazônia Legal é muito  menor do que no restante do país. No Brasil, 4,7% dos jovens entre 15 e 29 anos estão  matriculados em cursos destinados a prepará-los para o mercado de trabalho. Nos estados  da Amazônia Legal, essa proporção cai para pouco menos da metade: 2,4%. A baixa adesão  dificulta a qualificação do jovem para um mercado de trabalho já hostil. E representa um  entrave potencial para o desenvolvimento da região.  

Os dados constam no estudo “A Educação na Amazônia Legal – Diagnóstico e Pontos  Críticos”. Desenvolvido pelas economistas da educação Tássia Cruz (FGV EBAPE / CEIPE) e Juliana Portella (FGV EBAPE) para o Amazônia 2030, a pesquisa analisa estatísticas  populacionais e informações do Censo da Educação Básica, do Instituto Nacional de Estudos  e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), entre outros, para entender qual o cenário  — e os principais desafios — do ensino básico e superior na região. O olhar sobre o ensino  profissionalizante revela que, comparada ao restante do país, a Amazônia fica para trás: “A  Educação Profissional na Amazônia Legal é subaproveitada”, escrevem as autoras.  

A educação profissionalizante abrange três tipos de curso: cursos de qualificação profissional  ou formação inicial e continuada, que não exigem escolaridade prévia; cursos de nível  técnico, oferecidos durante ou após a conclusão do ensino médio; e cursos tecnológicos de  nível superior. Todas estas modalidades têm um papel importante na qualificação de trabalhadores para atender a demandas do mercado e do setor  produtivo, podendo contribuir para o aumento da produtividade, competitividade e  desenvolvimento regional e nacional.  

Tradicionalmente, o público prioritário dessas formações são pessoas entre 15 e 29 anos:  jovens que já trabalham e buscam qualificação, ou que estão em vias de ingressar no  mercado de trabalho.  

Esse é um público numeroso na Amazônia Legal. A região concentra 16% dos brasileiros  nessa faixa etária. Mas responde por apenas 8,6% das matrículas na educação profissional  em todo o Brasil.  

Mercado de trabalho hostil  

Os números sugerem que a baixa adesão à educação profissionalizante está relacionada a  certo grau de desilusão. A qualificação profissional pode aumentar a produtividade do  trabalho. Mas números do Dieese demonstram que ela não basta para aumentar as chances  de um profissional conseguir emprego: as taxas de desocupação apuradas entre os  trabalhadores que concluíram cursos de qualificação profissional ou cursos técnicos são  muito semelhantes às verificadas no total da população brasileira, girando em torno de 30%.  

Essa realidade é especialmente cruel para o jovem da Amazônia. Estudos anteriores do  projeto Amazônia 2030 constataram que há uma falta de dinamismo do mercado de trabalho  na Amazônia Legal, especialmente em relação ao restante do país, que vem gerando um  cenário desfavorável à inserção de jovens trabalhadores. Em 2019, 57% das pessoas entre  18 e 24 anos, e 40% das pessoas entre 25 e 29 anos que viviam na região não tinham  nenhuma ocupação.  

Frente ao desafio de encontrar emprego, mesmo que tenha formação adequada, o jovem da  Amazônia relata desânimo: 18% dos jovens da região Norte que concluíram o Ensino Médio, mas não cursam o ensino profissionalizante apontaram a “falta de interesse” como principal  fator para sua tomada de decisão, segundo dados da PNAD Contínua de 2019. Nas demais  regiões brasileiras, esse percentual cai para 12%.  

Para mudar esse cenário, as autoras apontam que a discussão sobre educação não pode ser  encarada de forma isolada, estando intimamente relacionada a debates sobre o mercado de  trabalho, suas características e sua capacidade de absorção da mão-de-obra. Investimentos  na Educação Profissional, portanto, devem ser acompanhados por políticas que gerem maior  dinamismo no mercado de trabalho na região, especialmente no que se refere à inserção dos  jovens.

Autores: Tássia Cruz e Juliana Portella

Digital Object Identifier (DOI): http://doi.org/10.59346/report.amazonia2030.202112.ed25