O setor de serviços é o maior empregador da Amazônia Legal. É também o que mais cresce. Uma nova análise, conduzida por pesquisadores do projeto Amazônia 2030, constatou que , em sete anos — de 2012 a 2019 — o número de pessoas trabalhando no setor cresceu 28,3%. O grande destaque coube ao grupo de vendedores, cujo número saltou 62,7% em menos de uma década. Os dados, apontam os pesquisadores, soam um alerta importante para a região: hoje, são as atividades urbanas as que geram emprego e renda para a população da Amazônia. Na ponta oposta, ocupações relacionadas ao uso da terra — como agricultura e pecuária — perdem espaço
As conclusões constam no relatório “Dinamismo do emprego e renda na Amazônia Legal: serviços”. O documento é o terceiro de uma série que examina como se comportou o emprego e a renda nos nove estados da Amazônia Legal em anos recentes. A pesquisa é conduzida pelos economistas Gustavo Gonzaga, Francisco Cavalcanti e Flávia Alfenas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Em trabalhos anteriores, o grupo já havia destacado a relevância do setor de serviços para os trabalhadores da Amazônia: em 2019, esse conjunto de atividades chegou a empregar 46% de todas as pessoas ocupadas na região. A nova análise mostrou que o setor cresce ano a ano, e num ritmo muito superior ao verificado para os demais setores. Nos anos analisados, os estados da Amazônia Legal abriram cerca de 500 mil novos postos de trabalho: um crescimento de 5,3%. No mesmo período, as atividades do ramo de serviços experimentaram um avanço quase seis vezes superior, com crescimento de de 28,3%.
A pujança dos serviços — e de suas atividades eminentemente urbanas — contrasta com a dinâmica observada nos setores que envolvem uso da terra. No primeiro relatório desta série, os pesquisadores constataram que, no mesmo período, a agropecuária demitiu 322 mil pessoas. Uma retração de 16% no número de postos de trabalho.
Outra análise recente do grupo apontou que, para além do setor de serviços, o setor público aparece na segunda posição entre aqueles que mais abrem postos de trabalho na Amazônia: entre 2012 e 2019, o número de pessoas empregadas pelo Estado na região cresceu 21,6%.
Em conjunto, esses dados acentuam a relevância das cidades para o mercado de trabalho da Amazônia: “Esse quadro ilustra que o dinamismo econômico da região ocorre, principalmente, nas atividades urbanas, que não estão relacionadas à floresta”, escrevem os autores.
Emprego em alta, salários em baixa
No setor de serviços, as atividades que mais cresceram foram as de vendedor (alta de 62,7%) e de serviços e cuidados pessoais (avanço de 23,5%). O avanço do emprego se deu, sobretudo, em meio àqueles com maior grau de escolarização: os dados mostram que o número de pessoas ocupadas no setor de serviços que tinham pelo menos o ensino médio completo cresceu 62,3%. O quadro pouco mudou para a população menos escolarizada, que tinha estudado até o ensino médio: avanço de 2%.
O crescimento do emprego em serviços, no entanto, veio acompanhado pela redução dos salários no setor. A renda média desses trabalhadores caiu 0,5% de 2012 a 2019. No último ano da análise, o salário médio do trabalhador do setor era de R$1426,00 — inferior à média salarial para a Amazônia, de R$1692. A taxa de formalização do setor também é baixa, com 63,4% dos trabalhadores na informalidade. “Os dados mostram que, para melhorar a qualidade de vida das populações na Amazônia, é preciso encontrar formas de qualificar —e remunerar melhor — esse trabalho feito nas cidades”, afirma Gustavo Gonzaga, que coordenou a pesquisa.
Autores: Gustavo Gonzaga, Francisco Cavalcanti e Flávia Alfenas
Digital Object Identifier (DOI): http://doi.org/10.59346/report.amazonia2030.202110.ed14.puc