As condições de acesso ao mercado de trabalho na Amazônia Legal são bastante desfavoráveis às mulheres e de uma forma ainda mais adversa do que no resto do país onde, apesar de avanços nas últimas décadas, as brasileiras continuam participando menos do mercado de trabalho e recebem salários inferiores quando trabalham em atividades similares às dos homens. É o que mostra o novo estudo do projeto Amazônia 2030, segundo o qual as mulheres da região da floresta têm, relativamente, menos oportunidades de empregos de qualidade em relação aos homens. Mesmo sendo, em média, bem mais escolarizadas que eles.
A taxa de desemprego das mulheres é quase o dobro da observada para os homens na região. Antes do início da pandemia, em 2019, apenas 42,4% das mulheres com mais de 15 anos de idade tinham uma ocupação, uma diferença de 22% na comparação com os homens. Elas também são maioria entre os trabalhadores informais. Uma parte muito maior das mulheres ocupadas (36,2%) se emprega sem carteira de trabalho assinada, número maior do que o dos homens (23,7%). Esse quadro é muito mais preocupante para aquelas sem ensino fundamental completo — quase a metade das mulheres nessa faixa de escolaridade trabalha sem carteira assinada, número também pior para elas que para eles.
O estudo também mostrou que mais de 60% das mulheres da região exercem suas atividades de trabalho no setor de serviços, enquanto uma parcela relevante dos homens está alocada na agropecuária e no setor de construção, onde poucas mulheres trabalham. Por outro lado, há uma proporção muito maior de mulheres que de homens trabalhando no setor público – 14,4% e 3,8%, respectivamente. “Esse diferencial por gênero de ocupação no setor público é mais do que o dobro do observado no restante do país”, ressalta Gustavo Gonzaga, pesquisador que coordenou o estudo.
Isso tudo apesar das mulheres serem bem mais escolarizadas do que os homens, que é um outro achado que vale ser enfatizado. Cerca de 60% das mulheres que compõem a força de trabalho tem ensino médio completo ou mais, enquanto apenas aproximadamente 40% dos homens atingem esse nível de escolaridade. No restante do país, essa diferença é bem menor — 64,2% e 50,8%, respectivamente.
Por conta disso, no entanto, elas ganham até um pouco mais: valor 1% superior no rendimento por hora. No entanto, quando comparamos mulheres e homens com mesma escolaridade, idade e tipo de região (urbano, rural, estado, etc.), o diferencial em favor dos homens é de cerca de 20%, dado que é semelhante ao observado no resto do país.
Foto: Centro de Empreendedorismo da Amazônia