Caminhos para a Transição Energética na Amazônia

A expansão da matriz energética brasileira foi baseada em decisões centralizadas, com destaque para grandes projetos hidrelétricos na Amazônia. Justamente por deter 34% de toda a potência hídrica do país, a Amazônia Legal assume um papel central na geração de energia renovável, embora consuma elevada parcela de energia termelétrica cara e poluente, além de depender de fontes inseguras para uso próprio. No ano passado, a região registrou 21% da geração de energia no âmbito nacional, tendo consumido apenas 12%. Hoje, o Brasil assiste a uma mudança de paradigma no vetor de expansão de energia, conforme retrata o novo estudo do projeto Amazônia 2030.

O relatório “Caminhos para Transição Energética na Amazônia”, liderado pela diretora do Centro de Regulação em Infraestrutura (FGV CERI), Joisa Dutra, e pelo pesquisador do Grupo de Economia da Energia (GEE) do IE/UFRJ, Diogo Lisbona Romeiro, ressalta a importância de investir em soluções descentralizadas e renováveis complementares ao sistema hidrológico da Amazônia. Para os pesquisadores, direcionamentos como esses não apenas ajudarão a região a descarbonizar sua matriz energética, como também contribuirão para a mitigação de efeitos das mudanças climáticas e maior segurança de suprimento.

Direcionamentos para a transição energética:
O estudo revela que a Amazônia tem a oportunidade de percorrer uma transição energética justa, beneficiando-se de energia renovável e acessível, caso cumpra os seguinte passos:

  • Descentralização: promover um modelo energético mais flexível, capaz de atender às demandas locais, sem depender de grandes infraestruturas e interligações;
  • Complementaridade: investir em fontes renováveis complementares ao sistema hidrológico, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e garantindo maior segurança energética;
  • Legalidade: combater as perdas não técnicas com rigor, sobretudo entre consumidores de média e alta tensão, implementando programas articulados com os governos locais para reduzir as perdas na baixa tensão;
  • Competitividade: atrair empreendedores críveis, dispostos e aptos a suportar os custos e os riscos envolvidos no desenvolvimento das soluções locais.

 

A pesquisa destaca a contradição: apesar de ser uma das principais regiões exportadoras de energia renovável do Brasil, a Amazônia Legal consome grandes volumes de energia termelétrica, que é cara e altamente poluente. O estudo ressalta a necessidade de investir em fontes renováveis e soluções descentralizadas que reduzam a dependência de combustíveis fósseis e aumentem a segurança energética. A adoção de energia solar e microrredes com armazenamento pode transformar os sistemas isolados, reduzindo custos e emissões de gases do efeito estufa.

Historicamente, decisões centralizadas priorizaram grandes projetos hidrelétricos, mas a transição energética exige um novo paradigma: modelos flexíveis e descentralizados que atendam às necessidades locais sem grandes dependências de infraestrutura. A pesquisa aponta que a descentralização não só descarboniza a matriz energética da Amazônia, mas também contribui para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e atender ao ODS 7 da ONU, que visa garantir energia acessível e sustentável para todos.

Perdas e desafios econômicos

Outro desafio destacado são as elevadas perdas não técnicas (furtos de energia), que comprometem a sustentabilidade financeira das distribuidoras. Em 2023, essas perdas representaram 32% do mercado de baixa tensão na Amazônia Legal, contra uma média de 13% no restante do país. Estados como Amazonas, Amapá, Pará e Rondônia apresentam os índices mais críticos. Combater essas perdas, segundo o estudo, é essencial para equilibrar custos e expandir o acesso à eletricidade.

Universalização do acesso

Embora iniciativas como o programa “Luz para Todos” tenham avançado na universalização da energia elétrica, a Amazônia Legal ainda possui cerca de 970 mil pessoas sem acesso à eletricidade, principalmente em regiões remotas. A logística desafiadora para atender essas comunidades exige parcerias entre governos, empresas e organizações da sociedade civil. A adoção de tecnologias renováveis nessas áreas é vista como essencial para reduzir custos e emissões, além de acelerar o ritmo da universalização.

Oportunidade histórica

A Amazônia Legal tem a chance de liderar uma transição energética justa, combinando desenvolvimento sustentável com soluções inovadoras para ampliar o acesso à energia. Investimentos estratégicos, parcerias e uma matriz energética descarbonizada podem transformar a realidade local, promovendo maior qualidade de vida e inclusão social para milhões de brasileiros.