Cacau fino ou commodity: opções para a Amazônia

Apesar de ser nativo da Amazônia, o cacau foi, por muito tempo, associado a outras regiões do planeta. O fruto dominou o mercado europeu a partir de plantações na América Central e no Caribe. Mais recentemente, passou a ser associado a países Africanos. A Amazônia brasileira, um dos berços da fruta, tinha pouca participação no mercado global — e respondia por uma parcela ínfima da produção brasileira. O quadro mudou e, desde 2019,  o Pará se tornou o maior produtor brasileiro do fruto, respondendo por aproximadamente metade do cacau nacional. Como garantir que o Cacau da Amazônia conquiste mais mercados?

No artigo Cacau fino ou commodity: opções para a Amazônia, o chef de cozinha e jornalista Roberto Smeraldi e a engenheira química e pesquisadora do Centro de Empreendedorismo da Amazônia Manuele Lima examinam as razões para o recente boom do cacau amazônico — e fazem um diagnóstico dos principais desafios enfrentados pelos empreendedores do setor para crescer. 

Em 2021, o Pará deve produzir em torno de 140 mil toneladas de cacau. A maior parte desse conjunto é de cacau do tipo commodity.  O sucesso do cacau no estado não foi resultado somente do aumento da produção, explicam os autores. A região se beneficiou de um trunfo único: a grande variedade genética do fruto naquela área. Calcula-se que existam mais de 20 mil variedades de cacau na Amazônia, um elemento fundamental para a qualidade do produto. 

De acordo com os autores, um dos maiores desafios dessa década é o de valorizar as diferentes variedades de cacau que a Amazônia hospeda. Isso permitiria aos produtores aproveitar melhor uma vantagem já existente — e ser mais bem remunerados pelo cacau vendido. Além disso, a valorização dessa diversidade pode levar a uma malha de indicações geográficas e de origem e servir para dar sustentabilidade e resiliência ao cultivo do cacau mundialmente, frente às ameaças da mudança climática e a proliferação de pragas e doenças.

O diagnóstico está alinhado a uma tendência global. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Holanda – principal importador e processador de cacau no mundo – é possível identificar nove tendências estratégicas do mercado de cacau para a atual década: 

  1. Foco crescente sobre origem do cacau e do chocolate;
  2. Narrativa (storytelling) cada vez mais importante;
  3. Crescente demanda por chocolate bean-to-bar (com cultivo e processamento unificados);
  4. Encurtamento da cadeia devido a comércio direto;
  5. Aumento da preocupação com saúde e bem-estar;
  6. Controles devidos à regulação europeia sobre presença de cádmio;
  7. Aumento da influência das multinacionais que entram também no segmento de cacaus
    especiais;
  8. Sustentabilidade da produção em alta na agenda internacional;
  9. Programas de sustentabilidade cada vez mais comuns no setor privado.

Para avançar e conquistar maior número de mercados, sugere o estudo, os produtores de cacau da Amazônia precisam de investimento em treinamento e profissionalização. 

Autores: Roberto Smeraldi e Manuele Lima dos Santos