A atividade pecuária está associada ao desmatamento na região amazônica – grande parte das áreas desmatadas foram convertidas em pastagens. O crescimento extensivo da pecuária na região amazônica se distingue do observado do resto do Brasil. Nos últimos trinta anos, enquanto no resto do Brasil a pecuária reduziu sua área, na Amazônia Legal ocorreu uma expansão consistente da área de pastagem (ver Figura 1). No entanto, o papel da pecuária como causa do desmatamento é menos evidente. De um lado, a expansão da atividade na região pode gerar desmatamento. Por outro lado, no entanto, a grilagem de terras tem utilizado a pecuária como parte do processo de ocupação do território. Nesse caso, a pecuária seria mais uma consequência do processo de grilagem e desmatamento do que uma causa.
Nesse contexto, conter a expansão de pastagem, mantendo ou mesmo aumentando o nível de renda dos pecuaristas, é um dos principais desafios para desenvolver de forma sustentável a Amazônia Legal. O elemento chave para atingir esse objetivo é o aumento da produtividade das pastagens.
Figura 1. Evolução da Área de Pastagem, 1985-2017
De acordo com modelos agronômicos, seria possível aumentar a produtividade das pastagens no Brasil em até três vezes por meio de uma combinação entre um melhor manejo de rebanho e intensificação. Do ponto de vista de políticas públicas, é importante entender a origem dos ganhos de produtividade identificados nos modelos agronômicos. Esses ganhos se encontram majoritariamente na disseminação de práticas utilizadas em escala em alguns municípios de alta
produtividade? Ou eles requerem a introdução de modelos de produção que utilizam práticas não amplamente utilizadas na Amazônia Legal? Esta distinção possui implicações importantes tanto para o desenho de políticas agrícolas como, por exemplo, políticas de treinamento e disseminação de novas tecnologias.
Neste estudo, pesquisadores do Climate Policy Initiative/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio) calculam qual o potencial de aumento da produtividade das pastagens na Amazônia Legal através da disseminação das melhores práticas utilizadas em escala na região.
Os pesquisadores mostram que a produtividade na pecuária é bastante homogênea na região, com predomínio de um modelo de negócios de produção extensiva, pouco uso de insumos (com base nos dados do Censo Agropecuário de 2017, apenas 12% das propriedades usaram máquinas e apenas 3% usaram calagem para correção de solo para pastos) e baixos níveis de produtividade. Essa uniformidade se traduz em benefícios pequenos ao se disseminar as práticas já utilizadas nos municípios mais produtivos da Amazônia Legal para os demais municípios da região. Os pesquisadores calculam que a Amazônia Legal poderia aumentar o valor da sua produção pecuária sem ampliar o desmatamento em 17,6-29,4%.
Embora o ganho de produtividade estimado seja relevante, ele é substancialmente menor que o potencial identificado na literatura agronômica. Ele também é consideravelmente menor que o potencial de ganhos de produtividade da agricultura brasileira, como calculado em trabalhos anteriores do CPI/PUC-Rio. Isso indica que a obtenção de grandes ganhos de produtividade para a pecuária na Amazônia Legal exigirá a introdução de um novo modelo de negócios com disseminação de técnicas e tecnologias ainda não utilizadas em escala na região e também o combate às atividades como grilagem que tem utilizado a pecuária extensiva e pouco produtiva como parte de seus processos.
Autores: F. Filho, A. Bragança, J. Assunção.
Digital Object Identifier (DOI): http://doi.org/10.59346/report.amazonia2030.202105.ed6.cpi